Sempre me custou entender a história dos Santos. Lembro-me que quando era pequenita, uma das coisas que mais confusão me causava eram as palavras do Padre da minha Paróquia sempre que apelava para que as pessoas trilhassem o caminho da Santidade. Com olhos curiosos e confusos, eu olhava os Santos dos altares e pensava para comigo mesma que eu não queria aquilo para mim. Viver uma vida difícil e cinzenta e depois ser imortalizada numa figura de barro ou de madeira, colocada num cimo de um altar, estática e sem vida? Onde iria eu encontrar o entusiasmo para tal loucura? Sabia que essas pessoas tinham, de facto, vidas exemplares de coragem e de entrega mas durante muito tempo vivi na certeza de que a santidade, era só para gente deslocada do mundo e com um código genético já preparado para tão nobre missão.
Até ao dia em que percebi com algum espanto, que a santidade é para todos. Até para mim.
A santidade é muito mais que uma competição cujo prémio é um lugar no altar de uma qualquer Igreja. A santidade é o grande desafio da vida humana. É o querer ser sempre mais e melhor na luta diária que se trava contra as asperezas do caminho. Passa pela entrega aos outros, pela renúncia ao egoísmo e pela inevitável fé, até no extremo da dificuldade e da tristeza. Ser-se Santo, exige uma escolha definitiva mas sempre nova e renovadora: a escolha pelo amor. E este amor não é, ao contrário do que possa parecer a olhares desatentos, um ideal vago e poético...o amor é absolutamente concreto, comprometendo-nos à ação a cada instante.
O mundo precisa de santos! Não de santinhos...Os santos agem, constroem e edificam. São gente de coragem que vão para o mundo de olhar levantado e anunciam com alegria o Cristo que lhes inspira os passos. Os santinhos falam muito e dedicam-se a encontrar argueiros nos olhos dos outros enquanto, paradoxalmente sofrem de uma cegueira doentia que os impede de verem a trave do próprio olho. Vivem num mundo só deles e falam de Cristo como se de um pesado fardo se tratasse... Talvez por existirem ainda muitos santinhos, seja difícil explicar a um adolescente de hoje, que a maior aventura de sempre é esta do amor. Oxalá as palavras do Papa João Paulo II, um dos maiores santos do nosso tempo, que pediu aos jovens para não terem medo de serem santos, fizessem eco e se tornassem fecundas...oxalá que sim...E oxalá a coragem da Madre Teresa de Calcutá, que apesar de não ter sido ainda considerada santa, o foi com toda a certeza, oxalá essa coragem, nos entusiasme, se não a fazer o mesmo, pelo menos a tentar olhar o outro (qualquer outro) com o mesmo amor e ternura com que ela ousou olhar.
A santidade nasce desta ousadia de olhar mais longe e de confiar na grandeza de um Deus que nos quer santos por ser esse o caminho. Não o fácil, não o largo, mas o único que dá sentido a cada passo.
3 comentários:
Porra, que saudades que eu tinha destas tuas tiradas...! =) É isso mesmo Fabi! Santos somos nós todos os dias nas pequenas coisas, em cada gesto que fazemos em que temos consciência de que se não fôssemos nós, se não fossemos permeáveis ao Amor que vem de Deus e se espalha pelos outros à nossa volta, não o faríamos. A Santidade é um castelo que se edifica, pedra a pedra. Não é um altar doloroso de trepar.
Briseis =) as minhas "tiradas" parecem-me sempre pobres em relação às tuas que me fazem estremecer quando as leio! Também aí construímos a nossa santidade...nesta partilha de ideias que façam os outros crescer. Obrigada =)
Consegues surpreender-me com as tuas palavras!! :) Parabéns, sabes do que falas Fabi... já agora, próximo CF lá estarei :D
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